- por malu baumgarten -
Não falo, penso o corpo que éramos nós
amarrados com perfeição, sólidas mãos,
chuvas de rio, atalho entre a neve e o sol,
o fim e o fim do mundo, nós atados.
Não somos um corpo. Os braços nossos
não enlaçam pernas, nossos pés não voam
juntos, asas que tínhamos perdemos
no esgoto banal da vida pobre.
Penso e não falo.
Teus seios não tremulam a bandeira
da rebeldia, tuas ancas abandonam
rituais de liberdade, está calado e vago
teu sexo. Palavras ocas.
Agora sei, nem nós, nem corpos,
nem corpos de nós. A morte vem,
a vida esvai-se, vislumbro o que intuía,
não sou especial. Foi ficção, sonhei como
Segismundo. Minha ilusão particular
deposito a teu pés, brutal e impiedosa
como o faria Maupassant.
- fotografia de malu baumgarten
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