- por malu baumgarten

Aqui os abutres pairam novamente
Voando sobre o território onde meu coração é terno
Onde a razão não tem reino
e sou movida pelos sentidos
como um inseto cego rastejo
- toupeira de pele fina a vagar nas profundezas da terra
entre as camadas de prazer e agonia
que moldam o mundo em mim.
Esses abutres com seus bicos curiosos,
asas abrangentes,
a promessa de conforto em sedosas penas negras.
Eles querem me sufocar.
com vozes compassivas
e movimentos ondulantes e desengonçados,
inclinam-se sobre meu rosto em doce indagação
“Para quem escreves? Diz-me o nome do teu amor!”
"Quem te faz tremer de dor – serei eu ou minha irmã?"
“Quem te abre o sorriso?
Que tristezas lavam as tuas lágrimas?”
me envolvem em grandes asas macias,
negras como o travesseiro da noite
seda que abranda suas vozes
vozes como penas de seda
eles pairam
grandes e pequenos
urubus-reis e senhorinhas estridentes
penetram meu coração.
A curiosidade deles é o meu fim.
Conheço essas promessas,
O abraço mortal
A súbita queda depois da ternura
O abismo.
Eles pairam e vagam
Tentam contornar minha recém-adquirida sabedoria.
Mas não haverão de ter meu coração
- dele nem um pedaço hão de tocar -
Ainda que ao som de seu pulsar o sangue erice as asas sedosas.
Há anos, lembro
Disse-me um homem à morte
Teu amor ninguém pode controlar”
Então, eu oro assim
“Meus pensamentos são meus
Mesmo quando amarrada a esta rocha no alto do mundo,
- minha poesia é minha.
E meu coração
- pássaros miseráveis -
Vocês não o terão
Vocês não o terão
Eu não me rendo ao seu ódio.
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Fotografia (homeless man around Burke Brook) 2021©Malu Baumgarten
Poema: 2021, original em inglês 2011©Malu Baumgarten
este poema pode ser lido no original em inglês aqui:
https://www.urubuquaqua.com/post/prometheus
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