- por malu baumgarten -
Salve a poesia que transborda da gente na hora braba
quando o ar empestado não alimenta
e a chuva carrega em suas águas
o veneno das horas mal vividas
e nos lava
e nos lava
no lodo sujo da indiferença.
Salve, salve poesia da triste hora
se ao poeta nada resta além da falta
Gritam as multidões aglomeradas sem amor
um grito rouco e orgíaco e sem fundo
não há mais fim
não há mais meio
não há nem havemos de encontrar
o chão que se move sempre mais
inferno daquilo que nos falta
Clamávamos por humanidade
dizíamos humano
humanizávamos
Viva a poesia! Viva a poesia da hora braba!
Que venha nos redimir
que nos salve desta humanidade pobre
desta condição não-animal que nos reduz
que nos torne em lavada chuva, leve ar,
claro barro, bicho limpo!
*do livro A poesia da hora braba/ Selo Invencionática - Editora Bestiário
*arte de Elisabeth Baumgarten
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