- por dani espíndola -

Ao ser expelido pelos pulmões, o ar toca
Delicadamente as cordas vocais
Fazendo-as vibrarem. Ou não?
Produzindo a voz. Será?
A avó da minha vó não tinha voz
Nem a sua filha
A minha avó não tinha voz
Sua filha tinha um pouco
Eu penso que tenho alguma
Um fio unido a tantos outros fios
Será o tecido-garantia que minhas filhas terão voz
E as filhas delas também
Para falarem
Para gritarem
Ou sussurrarem indecências nos ouvidos
Para rirem alto e incomodarem
Os que não tem paciência
Para a alegria e a balbúrdia
Eu já ouço
O coro feminino em formação
No fundo de um oceano de líquido amniótico
Hipnótico
Enfeitiçador
A força da onda que virá
Tsunami de sons
Vassoura líquida
Estamos acostumadas à faxina
À água do cozimento
Às lágrimas
O apito da chaleira
A torneira aberta
O sangue que escorre por entre as pernas
O sangue que escorre pelo corte assassino
O forro para embasar o coro
Das vozes de todas nós.
Commentaires