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mamãe posso ir?


- por cristine zancani


- Mamãe, posso ir?

- Pode

- Quantos passos?

- Dois de borboleta

E lá ia eu, avançando em voo.

Na verdade, não existiam passos de borboleta. Essa é uma falsa lembrança que meu desejo atual de leveza inventa. Os passos da brincadeira eram sempre terrenos: grandes passos de elefante, passos mínimos de formiga, passos em pulo de coelho.

Todo caminhar se dava a partir de uma mãe que consentia, mas que decidia o quão longo ou curto seria o trajeto.

Hoje, acordei pensando:

- Mamãe, posso ir?

Não veio resposta.

Mesmo assim, tentei saber:

- Quantos passos?

Não veio a orientação sobre o caminhar.

Então, caminhei por conta própria: os infinitos passos de mulher na pandemia.

As perguntas da brincadeira ficaram soltas pela casa. Acho que perguntas sem resposta habitam a casa como fantasmas.

De noite, as escadas vão ranger:

- Mamãe, posso ir?

E o piso vai estalar:

- Quantos passos?

Ate que a voz da mãe responda em mim:

Dois de borboleta

E a leveza se (re)faça nesse voo.


cristine zancani - março de 2021

foto de gil baumgarten

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