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novos velhos corpos

Atualizado: 3 de jan.

- por bebê baumgarten -



A sala é branca como a paz. Uma folha disponível ao desenho. Me acomodo no banco bem ao centro e mergulho no vazio. Um corpo se move, depois outro e um terceiro. Três mulheres, dois homens. Corpos diversos. Em traçados coloridos de vermelho, azul, verde e preto, deixam sua marca, a linha do tempo de suas vidas. Já vi esses corpos antes, nos teatros onde começaram suas histórias. Eva, Mônica, Suzi, Robson, Eduardo. Humanos que acompanhei em suas danças, atravessando décadas, pincéis colorindo o mundo. A sala vazia se enche de beleza e me emociono. A delicadeza das linhas alterna potência, leveza e sensibilidade. O corpo mais velho, vestido de vermelho na sala branca, deixa um rastro luminoso. Ao sair dali ele será mais um corpo invisível, mas na página em branco eles dançam. E pintam. Estão vivos.


Novos Velhos Corpos 50 + é um trabalho essencial. Nele estão corpos com mais de 50 anos, um deles com mais de 70, e todos dançam, são fortes, bonitos. Falam do tempo que passa, mas falam mais alto sobre gente que passa pelo tempo e não deixa de ser quem é. Somos nós na imagem refletida no espelho e não importam os anos que trilhamos, a cara que estamos, o estado de espírito ou as coisas materiais que adquirimos. Esse tempo impiedoso que nos é dado está a serviço de uma estrutura social que classifica, pune, isola e nos coloca no limbo. Andar ao largo dele nos faz mais felizes e confiantes com os corpos que temos e que insistem em dançar, tocar, criar e brincar. A videodança que reúne Eva Schul, Suzi Weber, Mônica Dantas, Robson Lima Duarte e Eduardo Severino, em imagens incríveis de Alex Sernambi, nos conduz em um voo mágico e acompanhamos curiosos seus rastros e traços, em imperceptível fina costura. Nossa imaginação ganha velocidade e com eles adentramos nesse estranho mundo onde o tempo é uma ferramenta nas mãos generosas da ciência, não mais um machado a cortar nossos pedaços ou um remédio que não cura. Nossos velhos corpos traçam a linha firme da história e mostram o caminho para os novos dançarinos do tempo.


* Impressões da videodança Novos Velhos Corpos 50 +

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