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Foto do escritorbebê

verde-musgo e azul

Atualizado: 19 de jul.

- por simone magalhães brito -


No quintal da memória, havia essa pequena ânfora da qual o musgo se apossou.

Não sei como foi parar na Grécia,

se um dia desses era um pote

que o velho cansado enchia de água boa duas vezes por semana,

o burrinho da carroça observava morrendo de sede,

o frio da cozinha

e a mãe esfregava com bombril para não juntar lodo.

Água doce.

Não sei como chegou no mar.

 

No tempo de Ulisses,

com cauda de peixe e cabelos de polvo, uma sereia foge e faz da ânfora a sua morada.

Passavam grandes baleias e barcos, coisas que ondulam e derrubam,

Mas como o pote na sombra do quintal, a casa estava firme na areia.

A sereia sente que voltou pra mãe.

Uma manhã, com ferro e com rede, arrastaram a caminha da sereia.

Os olhos brilhantes de sal não lembravam dor.

Ainda era uma sereia menina que parecia dormir.

Agora, a ânfora guarda a água fria do último sonho da sereia.

Não sei como foi parar no quintal,

se um dia desses era concha

que o menino colocava no ouvido para ouvir as ondas

e o vento nascia na porcelana marinha

uma grande matança de lagartixas

e a avó limpando a terra para plantar flores

que os bichos iam comer.

Água verde.

Onda de cabelos que o lodo roubou.


- foto bebê baumgarten -

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